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quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Suspeitos de matar ambulante no Metrô contaram histórias diferentes à polícia

Versões dadas na delegacia pelos primos Ricardo e Alípio apresentam contradições, segundo delegado que investiga o caso.


Os primos Ricardo Martins do Nascimento e Alípio Belo dos Santos, presos suspeitos de espancar até a morte o vendedor ambulante Luis Carlos Ruas dentro da Estação Pedro II do Metrô de São Paulo, na noite de Natal, contaram histórias diferentes durante os interro
gatórios realizados nesta quarta-feira (28), na sede da Delegacia de Polícia do Metropolitano (Delpom), na Zona Oeste da cidade.
De acordo com o delegado Rogério Marques, responsável pela investigação do caso, os depoimentos da dupla apresentaram "contradições". As versões dos acusados são diferentes, por exemplo, em relação ao que teria sido levado deles no suposto roubo cometido por moradores de rua que, conforme relataram à polícia, desencadeou toda a confusão.
"Um fala que foi roubado celular, óculos escuro, e o outro que foi só dinheiro dos dois. O que eles concordam é que estavam bêbados, foram roubados e agredidos na parte externa [do Metrô], e que eles foram apenas reagir", disse Marques.
O delegado afirma que enviou um ofício solicitando as imagens das câmeras de segurança do entorno da estação, mas ainda não as recebeu. Mesmo assim, já fez questão de colocar em xeque a veracidade dos relatos. "Antes de fazerem o interrogatório, eles foram orientados pelo advogado, então o advogado com certeza deve ter feito uma história e repassado para eles", sugeriu.
Foto mostra ação dos agressores dentro da estação Dom Pedro II do Metrô (Foto: TV Globo/Reprodução)Foto mostra ação dos agressores dentro da estação Dom Pedro II do Metrô (Foto: TV Globo/Reprodução)
Foto mostra ação dos agressores dentro da estação Dom Pedro II do Metrô (Foto: TV Globo/Reprodução)
Segundo Marques, ambos demonstraram receio com a reação popular após a divulgação do caso. Conforme contagem da própria polícia, cerca de 4 mil pessoas acompanharam o interrogatório do lado de fora da delegacia, que fica na Estação Palmeiras-Barra Funda do Metrô. "Até nós [policiais] estávamos preocupados", confessou o delegado.
Ao deixarem o local, os primos tiveram de ser protegidos por uma barreira de agentes do Grupo de Operações Especiais (GOE). Um dos policiais chegou a efetuar um disparo de alerta (sem impulsão de projétil) para acalmar os ânimos dos populares e evitar que eles pulassem a grade e agredissem a dupla. (veja vídeo da ação policial abaixo)
Apesar da ex-mulher de Alípio ter dito que ele tinha comportamento agressivo e "acessos de loucura", o delegado Marques informou que nenhum dos suspeitos tem histórico de agressão ou algo que "indicasse ter essa atitude violenta". O único boletim de ocorrência contra algum deles foi registrado no mesmo dia da morte do ambulante, pouco depois do ocorrido.
"O Alípio deve ter chegado em casa alterado, e como mora numa viela, deve ter causado um transtorno para outras famílias do lado e a família vizinha registrou um boletim de ocorrência contra ele. Os dois não tem passagem", explicou Marques.

Prisão

Ricardo e Alípio ficarão na carceragem do 77º DP, na Santa Cecília, no Centro da cidade, enquanto durar a prisão temporária, que é de 30 dias, prorrogáveis por mais 30. O delegado Marques já adiantou, no entanto, que vai pedir a conversão da prisão para preventiva. Neste caso, eles seriam levados para um Centro de Detenção Provisória (CDP), onde ficariam detidos sem prazo determinado para sair. "Tem que tirar esses agressores do convívio social", disse.
Os primos sustentam que foram urinar em uma praça próximo à estação quando foram abordados por moradores de rua que os roubaram. Eles disseram à polícia que tentaram reaver os pertences levados e Luís Carlos Ruas intercedeu em favor dos supostos ladrões. "Alegam que esse ambulante, tentando defender os moradores de rua, teria dado uma garrafada no Alípio".
Nenhuma das testemunhas relatou ter visto algum roubo naquela noite ou a suposta garrafada dada por Ruas. Mas, como ressaltou o delegado, apenas uma delas garantiu ter visto a confusão desde o início: Ivani Akemi. Segundo ela, dois homens foram urinar nas plantas do lado de fora da estação quando um morador de rua homossexual reclamou e passou a ser perseguido por eles.
Luiz Carlos Ruas era vendedor ambulante (Foto: TV Globo/Reprodução)

As imagens das câmeras da Estação Pedro II mostram a perseguição de dois homens a uma travesti. Ela passa por baixo da catraca, corre com os criminosos em seu encalço, mas consegue escapar. Em seguida, quem já aparece fugindo dos agressores é o vendedor ambulante Luis Carlos Ruas. Ele, no entanto, cai e é atingido por repetidos socos e pontapés.
Ruas morreu no hospital e foi enterrado no Cemitério Jardim Vale da Paz, em Diadema, no ABC. Ele trabalhava há mais de 20 anos na saída de uma passarela do lado de fora da estação e, segundo a investigação, tentou defender a travesti e uma homossexual, que não aparece nas imagens, perseguidas pelos primos Alípio e Ricardo.
Os dois agressores identificados são Alípio Rogério Belo dos Santos e Ricardo Nascimento Martins (Foto: TV Globo/Reprodução)Os dois agressores identificados são Alípio Rogério Belo dos Santos e Ricardo Nascimento Martins (Foto: TV Globo/Reprodução)
Os dois agressores identificados são Alípio Rogério Belo dos Santos e Ricardo Nascimento Martins (Foto: TV Globo/Reprodução)
O delegado Marques afirmou que os dois acusados demonstraram arrependimento durante o interrogatório: "Dizem que aconteceu porque estavam alcoolizados". Ele também diz que, por enquanto, não vê indícios de que o assassinato de Ruas tenha relação com um caso de crime de ódio relacionado à homofobia. "Não há nada que leve a crime de intolerância"
Conforme o G1 apurou, apenas dois vigilantes eram responsáveis pelo patrulhamento de três estações (Bresser-Mooca, Belém e Pedro II) na noite de Natal. No momento em que Ruas era atacado, não havia nenhum segurança no local. A dupla de agentes "fazia rondas nas estações vizinhas", como afirmou o Metrô SP.
Os agressores irão responder por homicídio duplamente qualificado (motivo fútil e impossibilidade de defesa) e por lesão corporal contra as outras duas pessoas que também foram agredidas, mas sobreviveram. Os dois foram reconhecidos por 14 testemunhas.

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